domingo, 26 de março de 2017

Domingo em meio à crise

José do Nascimento Barreto

Amanheci, coisa de 5:15 e notei que tudo estava claro, a luz do sol pontificando,lá no horizonte do mar, invadindo meu quarto, tocando a minha rede, aquecendo meu corpo. 
 Carambas e carambolas, como as coisas mudam, né, mas é que existe uma tal de precessão dos equinócios ou algo que o valha e faz isso, tem um tempo do ano, que às 5:15 ainda está escuro,mas agora o sol já dá o seu recado, no cantar do galo, bicho que nem por aqui existe mais.
Tudo tranquilo no mundão de fora, e vejo isso indo à janela, e olhando para a rua, onde a tranquilidade é total.
Poucos carros, pouco barulho, exceto o que meu vizinho de cima provoca, como se arrastasse uma cadeira de rodas, para cima e para baixo, e não sei o que fabrica, se cigarros, estampa camisas, usa patins, ou tem raiva de mim.
Bem, o mundo pode estar pegando fogo, mas o povão, ou a parte que ainda tem algum dinheiro, ou tem coragem de andar a pé, não deixa de curtir a praia, e se tiver uns trocados, compra um picolé, amendoim, e até bebe uma loura gelada, fica olhando a bunda das mulatas, que isso é programão, indispensável.
Mais tarde, quem sabe lá pelas 17 horas, um pouco mais,passarão aqui em baixo, os adeptos do MBL e afins, e seguirão para a beira da praia, onde mil discursos inflamados serão atirados ao ar, de cima de um carro de som, que espalha som por quilômetros de distância. 
Assisto a tudo isso, com a calma de quem não tem jeito a dar em nada, mas com a convicção de que penso, analiso, mergulho em mil conjucturas, e faço com a mente aquilo que o corpo já desgastado não pode fazer, voar, voar, voar..... 
É isso basta-me, por enquanto.