terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

MALDIÇÃO

Ana Lagoa

BRASIL, MEU AMANTE, 
EU - SUA AMANTE, 
onde me largou a cegonha, 
ou terei saido de um repolho imigrante num navio furreca??? 
por que aqui? 
por que nesse tempo? 
por que esse lugar - esse lugar que me anunciaram promissor e belo,
mas que não me abraça, não me ouve, 
e corre celerado em direção a um destino desastroso ... 
e nada que faço conta.
E por sugestão tragicamente poética da Sylvia Moretzsohn 
fui catar o fado que ela lembrou, e que sintetiza nosso horror.
SE TROCARMOS O AMANTE do fado, 
PELO PAIS QUE AMAMOS, 
a letra combina perfeitamente com nosso momento:

MALDIÇÃO
Que destino, ou maldição
Manda em nós, meu coração?
Um do outro assim perdido,
Somos dois gritos calados,
Dois fados desencontrados,
Dois amantes desunidos.
Por ti sofro e vou morrendo,
Não te encontro, nem te entendo,
Amo e odeio sem razão:
Coração... quando te cansas
Das nossas mortas esperanças,
Quando paras, coração?
Nesta luta, esta agonia,
Canto e choro de alegria,
Sou feliz e desgraçada.
Que sina a tua, meu peito,
Que nunca estás satisfeito,
Que dás tudo... e não tens nada.
Na gelada solidão,
Que tu me dás coração,
Não há vida nem há morte:
É lucidez, desatino,
De ler no próprio destino
Sem poder mudar-lhe a sorte...
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