sábado, 25 de fevereiro de 2017

Por quem?


Bruno Moreira Lima
Por quem?
Por Macaco do povo
Pelo que nasce,
Não ao matador;
Não ao que destrói,
Mas, ao construtor;
Pelo que planta,
Não ao poluente;
Não ao que corrompe,
Sim ao educador,
Eu queria ter palavras
Que pudessem assegurar
A sua vida longa,
O seu bem-estar.
Mas, não é essa a fala
De quem a pode amplificar
Dos que detêm o poder
De, o que é justo, aprimorar...
Pelo que trabalha,
Não ao explorador;
Contra o presunçoso,
Um conciliador;
Não ao egoísta,
Mas, ao benevolente;
Em favor da gente
E não da fidalguia
Eu queria ter palavras
Que pudessem assegurar
A sua vida longa,
O seu bem-estar.
Mas, não é essa a fala
De quem a pode amplificar
Dos que detêm o poder
De, o que é justo, aprimorar...

Der Himmel über Berlin

Elizabeth Lorenzotti
Vastidões desérticas onde se apura
O mistério do ser-- o desejo em brasa
doura a fornalha-- e a dor é só secura
Grande e estranho segredo te embaraça
Memórias do verde emolduram a alma
Sede milenar de tantos pergaminhos
Anjos de asas caídas tocam flauta
Elfos, ourives das sendas, dos caminhos
Dai vazão, dai, às torrentes do profano
Aprisionado ao negro vão da tormenta
Fonte de augusto poeta brasileiro
Vergam os céus sobre o minúsculo humano
As capitais engasgadas de magenta
Desenrolam a miséria estrangeira

(do livro AS DEZ MIL COISAS)

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

1968 é vários anos



Liu Sai Yan

E quando falamos que gostamos, reafirmo que adoro por razões sentir-mentais, sem bravata nostálgica e mais por fragmentos de um forever que rima com à frente. Chien Jin, incitava o hino yellow fellow que implodiu a república dinástica sonhada pela quarta frota do Pacífico em conluio com a velha Albion decrépita, cujo Sol se punha em todos os galinheiros.
Sim, hard rain à frente (e em cima), estávamos nem aí, nós que amávamos tanto os revolucionários, à distância prudente, e a velha guarda dos bandoleiros vermelhos que riscaram um mapa-múndi de Leste a Oeste, do Sul ao Norte. Culto de personalidades no duro e na lata, equidistante dos novíssimos inimigos guerrafrilas que militarizaram fronteiras bolcheviques e maoistas. Giap foi ídolo pop à altura e estatura de Che. Disparariam imediatamente um contra outro se postos cara a cara, mas o fuso horário inviabilizou o duelo, já que um acordava quando o outro ia pra cama, e assim deixamos o pau quebrar sob os auspícios de Dany le Rouge e Debray, enquanto Jean Luc armava trampas contra Pontecorvo, com Glauber planejando incinerar a terra do Sol e... nós, desavisados do impacto do ato institucional ao som dos imbecis nacionais, levamos no meio da cara (em cheio nos tímpanos) o petardo-manifesto da Zona do Norte que não tinha a ver com festa pobre, sóssonorizaram (tomografaram) o carnaval dos mendigos.
Beggars Banquet. Referência máxima internacionalista que furou barreiras e derrubou cercas pra geração deslocada dez anos entre o Chega de Saudade porque I wanna hold your hand. O Imagine descolava dos muros pra sair girando em 33 1/3 rotações por minuto. Eu? Eu sorria assim eu ia... no embalo desgarrado do rock sujo e da audição desbundada em apês lotados de fumacê e love você, enquanto o planeta se derretia em cores-crimes-bandeiras.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

MALDIÇÃO

Ana Lagoa

BRASIL, MEU AMANTE, 
EU - SUA AMANTE, 
onde me largou a cegonha, 
ou terei saido de um repolho imigrante num navio furreca??? 
por que aqui? 
por que nesse tempo? 
por que esse lugar - esse lugar que me anunciaram promissor e belo,
mas que não me abraça, não me ouve, 
e corre celerado em direção a um destino desastroso ... 
e nada que faço conta.
E por sugestão tragicamente poética da Sylvia Moretzsohn 
fui catar o fado que ela lembrou, e que sintetiza nosso horror.
SE TROCARMOS O AMANTE do fado, 
PELO PAIS QUE AMAMOS, 
a letra combina perfeitamente com nosso momento:

MALDIÇÃO
Que destino, ou maldição
Manda em nós, meu coração?
Um do outro assim perdido,
Somos dois gritos calados,
Dois fados desencontrados,
Dois amantes desunidos.
Por ti sofro e vou morrendo,
Não te encontro, nem te entendo,
Amo e odeio sem razão:
Coração... quando te cansas
Das nossas mortas esperanças,
Quando paras, coração?
Nesta luta, esta agonia,
Canto e choro de alegria,
Sou feliz e desgraçada.
Que sina a tua, meu peito,
Que nunca estás satisfeito,
Que dás tudo... e não tens nada.
Na gelada solidão,
Que tu me dás coração,
Não há vida nem há morte:
É lucidez, desatino,
De ler no próprio destino
Sem poder mudar-lhe a sorte...
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quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017


Ana Lagôa
Ana Lagoa

ENQUANTO MARISA PARTE
vou me esconder na horta, podar e colher temperos, comer moranguinhos, ver o que estão fazendo as formigas, tapar a toca do mamanga... a panela do arroz sinaliza que está pronto, Loba dorme no sol frágil de hoje, alheia às mazelas dos humanos, coloco sacos de papel nos dois pequenos araçás, o pedreiro tapa os buracos no caminho do chuveirão, falamos em montar ali uma sauninha, coisa rústica, só para amigos especiais. Recolho as cumbucas vazias do gato Pitoco, às vezes choro... a vida segue. Eu sei o que fazer com o amor. Mas o que vou fazer com o ódio????