domingo, 29 de janeiro de 2017


UM MURO RONDA A TERRA
O muro separa sonhos,
divide identidades,
amesquinha pessoas e cidades.
O muro sempre cinza-desastre
repele humanidade, alegria e arte.
O mesmo muro em Porto Alegre, em São Paulo, na Palestina, na América do Norte
separa vidas, celebra a morte

QUE E ESPERAR DE UMA SOCIEDADE DOENTE?

José do Nascimento Barreto

Creio que estamos deixando para trás os últimos vestígios de um projeto de civilização humanista, e adotando a regra do ódio, da violência e da exclusão, para quem quiser salvar-se, e desfrutar desse banquete autofágico, em que a própria terra está sendo devorada.
A ciencia e a tecnologia pôs nas mãos de grupos poderosos o destino todo da mãe terra e ela está sendo simplesmente pilhada, seu clima, seu meio ambiente devastado, seu solo, os mares e os ares contaminado por bilhões de toneladas de lixos de toda espécie, alterando completamente as suas funções.
Em todo os lugares, a fraternidade, o respeito e a integridade do ser humano estão sendo violados, e ensina-se isso abertamente em tevês, jornais, revistas, filmes, incutindo na mente de milhões a lei do mais forte, esperto, do vivaldino, do que não têm regras morais, dos que não pedem, mas exigem e impõem.
Não causa espanto que ao invés de estarem longe, as disputas, os confrontos, as violências, as armas, as invasões, as pressões, estão no dia a dia do ser humano e o individuo, sem saída, apega-se a qualquer salvador, aos Valdomiros, aos Macedos, aos Malafaias, aos Bolsonaros, Temer, aos Trump e outros potentados, imaginando que só a força resolve tudo, quando ela escolhe uns e queima os demais, na ordem implacável do salve-se quem puder.
Não estranha pois que individuos transtornados, peguem armas e matem dezenas, centenas, em atentados, em vinganças pessoais, em repúdio a um tipo de viver que não entendem e ao qual respondem com brutalidades, derramando sangue.
As chacinas nas prisões brasileiras, as mortes de negros, mestiços e brancos pobres das periferias, pelo tráfico e pela repressão policial, a retirada de direitos sociais, a introdução do trabalho escravo e semi-escravo, a falência da previdência social, a negação do seguro-desemprego a milhões, a falta de trabalho, o desrespeito ao dinheiro público, marcam todo esse universo de contradições implacáveis, e não formam pessoas sociáveis, honestas, trabalhadoras, mas contribui para tornar a convivência humana algo terrivel, onde a exlusão, a desconfiança, a desesperança, a negação de valores morais, e o medo predominam.
Não estranha nada, portando, que grupos que atuam nos meios virtuais agridam, exijam vingaças, ameacem, peçam castigos brutais, deliciem-se com a dor alheia, vejam na eliminação do semelhante a sua própria salvação, quando tudo isso não passa de um ambiente social que está apodrecendo, e no qual todos sairão perdendo, porque apelando para o ódio irracional, terminarão sendo vítimas desse mesmo ódio

POEMA

Muitos fugiram/Fugiram para aonde?/Se impossível é/Regressar dos infernos?/Sim, ganha-se tempo/Mas até o tempo/Tem seus limites/E, ou você luta/Ou vira um verme/Que nem a generosa/Terra mãe aceita.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

O anjo da História


Walter Benjamin

Há um quadro de Klee que se chama Angelus Novus. Representa um anjo que parece querer afastar-se de algo que ele encara fixamente. Seus olhos estão escancarados, sua boca dilatada, suas asas abertas. O anjo da história deve ter esse aspecto. Seu rosto está dirigido para o passado. Onde nós vemos uma cadeia de acontecimentos, ele vê uma catástrofe única, que acumula incansavelmente ruína sobre ruína e as dispersa a nossos pés. Ele gostaria de deter-se para acordar os mortos e juntar os fragmentos. Mas uma tempestade sopra do paraíso e prende-se em suas asas com tanta força que ele não pode mais fechá-las. Essa tempestade o impele irresistivelmente para o futuro, ao qual ele vira as costas, enquanto o amontoado de ruínas cresce até o céu. Essa tempestade é o que chamamos progresso'.

BENJAMIN, Walter. Teses Sobre o Conceito de História. In: ______ Obras Escolhidas, v. I, Magia e técnica, arte e política, trad. S.P. Rouanet, São Paulo: Brasiliense, 1985 , p. 226.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

A dor de cada um

Ulysses Ferraz

A dor de cada um,
a dor do outro,
a dor daqui,
a dor de lá,
de todo lugar.
A dor é uma só.
É a dor do mundo.

terça-feira, 3 de janeiro de 2017


RIP 2016 e ripa em 2017



Liu Sai Yam 


Em (raros, podiscrê) acessos de pedantismo, quando fico me achando é aí que me perco todo, Ia escrever 'metáfora', mas acho que é 'prosopopeia', que alguém vai corrigir pra 'antropomorfismo', isso se for nada disso, então não vou escrever nada daquilo acima e revogue-se o primeiro parágrafo e cabou-se o pedantismo. O china burro vortô.

Começando: 2016 tá fazendo falta, inocente que foi linchado e enterrado no embalo sarcástico (dessa tenho certeza) de "adeus, querido". Não, pô, foi um simples ano, como o 1000, o 33, o 1347, o 1942, o 1964, etc. Aí que pra nos omitirmos das enormes cagadas que cometemos (tô fora, desembarquei agorinha de Saturno), jogamos a responsabilidade pra o coitado do 2016, cujo único crime foi alinhar dia após dia pra nós acumularmos merda em cima de besteira. Aliás, o coitado até tentou caprichar, mandando olimpíada e uns dias maneiros de Sol. O resto é nóis que fez, só que pusemos tudo na conta do pobre 2016, execramos o danado e soltamos fogos quando ele faleceu (agora me ocorreu outra expressão: bode expiatório).

Chegou 2017 e já chega hardcore, pisando duro (tirante o fato óbvio de eu seguir duro e teso), timão continua na draga e tem doido com os dedo coçando pra apertar o botãozinho. A juntar lenha pra fogueira, terráqueos.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2017