quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

O DEFEITO

Escrevi esse poema há uns três anos. É ruim pra caramba, mas explica o que eu penso do processo mecânico automático e lobotomizante que nosso paradigma ocidental científico-industrial-romano implantou no mundo.

Eu quero a banana torta com aquelas manchas pretas na casca,
A porta empenada, a gaveta emperrada que não fecha direito, o assoalho torto com defeito, o chão imperfeito,
Tábua solta que topa no dedo, a janela que não fecha
E deixa entrar o vento que incomoda e resfria o peito.

O desconjuntamento das coisas na circunstância do tempo na conjuntura da hora
Não é um destrato mas um movimento da natureza pelada quando acontece do seu jeito:
A lagartixa desprende do teto num gesto inexato e perfeito.
A essência inexistente da moça inflável mulher de borracha que sai de fábrica linda e perfeita,
Se viva se morta, aparência criada na mesma medida da falta de finalidade da besta,
Premissa mercadológica, expectativa unilateral mais que artificial estatística e estreita -
Coitada, dá pena e não vale o pentelho crescido á vontade na virilha nua sem salão de beleza.
Do modo como a ela der na telha, o seu cabelo, seu pelo peito e seio,
Uma verdade tão sua que só se descobre de permeio.
O abacate um pouco escuro escurecido esquecido na prateleira do super super supermercado
É um descompasso na ordem correta da métrica lógica que não sustenta,
Num mundo de reta sem curva que pensa que avança que pensa que avança que pensa que avança e não pensa,
Seja seu erro, seu vesgo, seu gago, seu torto, canhoto, esquisito, canhestro, estrangeiro,
E diga bizorro, menas, pobrema, poblema, excrusive, se foda, se morda, errado e sem dor.
Sílaba átona, oxítona, paroxítona, afônica em êxtase,
Esdrúxula, vômito, engasgo, torpor, estupor, sem professor.
Mas viva com amor, mas viva com amor, mas viva com amor.

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