sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

ENQUANTO SE MATAM, COMEMOS A MESMA COMIDINHA COM SOTAQUE



Ana Lagoa


Descobri o falafel vagando pelas ruas de NY em um dia 12 de outubro pré-Torres Gêmeas. Vários quarteirões cheios de gente e barracas de comidas de todo o mundo. E lá estavam os rapazes com caras de árabes, com seus cabelos e olhos negros imensos. NO tacho bolinhos amarelos flutuavam gritando em óleo de gergelim fervente. Um dólar. E um deles tirava o bolinho do tacho, colocava em um suporte de papel, abria ao meio e colocava ali o molho escolhido. Feito de massa de feijão e especiarias, o falafel é tio avô do acarajé, com certeza, sem o dendê. Ai vou na feira das colônias e dou de cara com ele, o falafel, mas não na barraca dos sirios, ou dos libios, ou dos egipcios, ou dos armênios... mas na barraca de Israel, onde pessoas claras, de olhos claros e cabelos ralos, se esmeravam em fazer as apresentações. Olhei para eles, agradeci poder rever esse bolinho fantástico, pedi o meu no prato com pasta de grão-de-bico azeda, uma saladinha de repolho bem fininho e pão (sírio???). 

Ponho o primeiro pedaço na boca, sinto o cheiro dos temperos (árabes????) e ouço ao longe, bem longe, tiros e bombas caindo onde o deserto encontra o mar sujo de óleo negro e sangue.

Um comentário:

  1. Tão universal e sem preconceito sequer racial, falafel e mais que pastel. Brava!

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