sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

DIA 30 DE DEZEMBRO DE 2016

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Ana Lagoa




Há um ano, já sabíamos que o bicho ia pegar. Tudo estava mais que anunciado, explicitado descaradamente nas "bombas semióticas" ou, como queiram, na "novilíngua" dos doutrinadores midiáticos. Nós, os perplexos acometidos de choques anafiláticos a cada ignomínia diária, talvez acreditássemos na máxima "o mal não pode ganhar sempre". Mas ganhou. Despeço-me deste ano, que nos esmagou (embora como " indivídua" reconheça que foi um ano rico em saúde, afeto, amizade e o amor, sempre o especial amor), sabendo que somos hoje UMA NAÇÃO RETALHADA. Alterno meus muito particulares momentos de alegria com outros em que me sinto como virada do avesso. Em carne viva. Espectadora (sim, porque tenho consciência plena na minha inutilidade na luta) de um drama que não tem limites. Os poderosos retalham tudo que foi construído - não pelo PT, Dilma ou Lula, mas em muitas décadas de lutas, em todos os setores) e seguem - no salão nobre do palácio - se lambuzando com os pedaços desta terra e de seu povo. Enquanto isso, nas outras dependências, ratos e lacraias devoram tudo que lhes parece bom, que lhes passa pela frente, um cargo, uma mesa grande, um carro oficial, um jatinho, um sorvete, um pedaço de poder. Em cada canto deste país se processa a incessante desmontagem para que esses seres repugnantes ocupem os espaços de poder e grana. Mas não se desmonta apenas as estruturas de poder e de produção. Desmonta-se a identidade, aquilo que o nosso Darcy Ribeiro chamava de POVO BRASILEIRO. Desmonta-se há décadas. Com o incessante trabalho da midia lacaia do Império, com a desqualificação do Humano, em novelas e pretensos programas jornalísticos ou de entretenimento. Desmonta-se quando se derruba a barreira entre o que é público e o que é da esfera do privado, com aberrações do tipo BBB. Desmonta-se quando pelo país afora são aniquiladas nossas heranças culturais, pois enquanto o Governo oficializava o que chamam de "capítal intangível" (povo e cultura tradicionais), foram sendo banidas nossas lendas, crenças, um universo simbólico e suas representações sociais, condenadas e excluídas fisicamente, taxadas de "coisas do demo". Completa-se com o golpe de 2016 um ciclo de bem arquitetado projeto de aniquilação de uma Nação que nem bem se reconhecia ainda. A Cultura mais forte, mais parruda, mais poderosa do continente (para o qual damos as costas e uma banana sempre que podemos) se desfez, por décadas, sob nossos olhos, arregalados, possessos ou passivos, acomodados, resignados. O Império sabe o que faz. São profissionais da empresa do saque. Onde é mais fácil, enviam bombas. Onde existe uma cultura forte, primeiro destróem suas bases. Eles sabem, um povo que abre mão de sua cultura se torna vassalo. Não tem energia vital para a reação em escala suficiente para enfrentar o monstro. A CULTURA de um povo é sua energia KI, sua kundaline. Sem ela, não há gozo nem luta. Não há humanidade. Só bonecos vazios, só países em farrapos. Que este ano que começa passe rápido. E que possamos encontrar formas mais efetivas de resistência. Que os isolados núcleos de "formiguinhas" achem o link entre si e se fortaleçam. Que os afro-descendentes se fortaleçam e resistam. Que a consciência tome lugar na alma brasileira. Porque a guerra mal começou. E vai durar décadas.

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