quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

CHEGOU A PRIMAVERA




A primavera tornou-se sinônimo de convulsões políticas em alguns países da periferia do capitalismo global. Era a promessa de transformações políticas, com aquelas legiões de descontentes saindo às ruas, depois de tenebrosos e intermináveis invernos.
Ocorre que na primavera dos países pobres, adormecidos em cima de riquezas incalculáveis, a única coisa que floresceu foram regimes detestáveis sob tempestades políticas e guerras civis.
Os senhores das guerras continuam tranquilos e sorridentes. Para eles o verão nunca termina.
Alguém identificou a "oportunidade" de uma primavera brasileira.
Uma primavera forjada no ódio, remoendo todos os nossos complexos, memórias e cultura escravocrata.
Acontece que num país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza, as estações do ano não são muito bem definidas.
Essa tal primavera não fazia tanto sentido.
Continua portanto esse inverno moral.
Fica a raiva. Fica o ressentimento. Fica o desentendimento.
Aquele sorriso bonito que a gente tinha, fica em suspenso até segunda ordem.
Nossos fantasmas foram mal trabalhados e agora pairam por aí, assombrando as ruas que parecem tão feias.
Abriram a porta do inferno e liberaram a saída de monstros terríveis. Agora ninguém consegue fechar.
Os bares estão meio vazios. Meio em silêncio. À meia voz.
Curioso. Têm certas situações em que simplesmente não se pode passar imune.
Não dá pra fingir que não é conosco.
O inverno continua vigente. Não é só o clima, não é só a crise econômica e a galera sem grana, não é só a crise política. É tudo.
Quando se está em guerra, não dá pra sair por aí e fingir que não tem nada com isso. E estamos em guerra e isso serve pra todos. Numa guerra civil fria. Não é guerra quente, porque só um lado tem armas.
Queria um texto mais otimista pra vocês.
As vezes as pessoas me cobram isso. Mas não se trata de ser pessimista. É questão de olhar o mundo à sua volta. Não dá pra ser indiferente.
Com tanta riqueza que o Brasil possui, quem diria que a mais valiosa seria o nosso sorriso.
Para roubarem todas as outras riquezas, precisaram antes de tudo quebrar nossa alegria. Nossa fé em nós mesmos.
Porque nosso sorriso é resistência. Sempre foi. Irreverência (ir contra o rei), re-significação da opressão. A Beth Carvalho falava isso a respeito do samba e do carnaval. Amo a Beth.
Que inverno longo. Uma guerra também se vence pela exaustão. Um belo dia as pessoas se olham e dizem: "Queremos nossas vidas de volta".

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