quinta-feira, 17 de agosto de 2017

Nos termos do tempo

 Macaco Devagar
(Bruno Moreira Lima)

Antes do ataque fatal
Sente-se, de Cronos, o bafo,

Cuja influência maligna
Faz da razão um bagaço,

Alastrando-se o medo,
E a ele somado
O desespero.
As mãos esfriam, o estômago gela
E, assim como a respiração,
O coração acelera...
Não adianta choro
Não adianta vela
Se não for o indivíduo,
Ao adiantar o que deve,
Antes de tudo, precavido
Para livrar-se do mal
Não tardando, todavia,
Para comer as nossas tripas,
Acabando com qualquer honra,
Desabando qualquer moral,
Ele surge, com sua ira!
E, com ele, uma briga
É de morte ou morte
É brutal!
Não acode a sorte
Não importa a lida
Não redime o esforço:
É briga de foice!
Na qual
A cada rodada
Ele arranca um pedaço
Até que não sobre nada
E o nada perca sentido
Dando na luz
Branca ou vermelha
Conforme o padrão de seus atos
Porém, mesmo do inferno,
Ele nos traz de volta ao jogo
Para saciar-se de novo...
Enquanto eu,
Que, há muito, sei disso,
Porque já morri tantas vezes,
Dessa vez não me rendo
E resisto
Se não o mato por fora,
O rasgo por dentro,
Como um caco de vidro, inflamado,
Retalhando seus órgãos,
Com viço,
E, assim,
Vingando os lentos

terça-feira, 25 de julho de 2017

Se minha boca calar

Se minha boca calar
Se minha alma amofinar
Se meus olhos cegarem
Se esgoto o nariz não sentir
Minha pele não arrepiar
O horror não perceber
Outros sentirão
Se minha boca calar
Se a censura se instalar
outros falarão
outros falarão
E o Verbo transformará
A voz de muitos Eus
ressoará como no princípio
o vir a ser do que não é
Com a VOZ de todos nós .
Depois da noite vem o dia
depois da tempestade
a bonança
depois da inconsciência
o despertar
no multiverso semente.
no frio dia de minh´alma
neste julho do ano da coragem

quinta-feira, 13 de julho de 2017

UM DIA DE SETENÇAS

Ulysses Ferraz

Estrangeiro
em meu país, 
dia que não existe
lugar de chegar,
corpo ou universo,
tudo é exílio

segunda-feira, 22 de maio de 2017

SAUDADES

Maisa Paranhos

Queridos amigos, 
ando com saudade de mim.
ando sem mim.

Esvoaço na busca 
de um mundo mais continente, 
amoroso, fraterno.

Hoje fui a uma manifestação 
que não altera a vida no país. 
E voltei direto pras caixas de fotos. 
Ouvi música.
Saudade dos mortos e dos ainda vivos.
Saudade dos que estão pra morrer

Fui em busca de mim. 
de minha ternura 
posto que sem ela, 
nada faz sentido. 

E pensando aqui, na gente, 
que tanto amor tem ao país, 
acho que não devemos ser tão rígidos. 
A forma traz o conteúdo
Cuidemos de nós.
Meu carinho para cada um de vcs.

sábado, 6 de maio de 2017

Quem somos nós

Quem somos nós e de que somos feitos? Só de carbono? E se formos mero papel carbono? Borges dizia que nós somos somente os deuses nos pensando. Ora, por quê esta prosa a esta hora? Para dividir com vocês o espanto de ter lido ontem, via BBC, a notícia de que o telescópio Hubble mandou imagens de um aglomerado de galáxias localizado a 6 bilhões de anos luz. Então, somos Luz, deduzo, com a licença de vocês. E algum link teremos nós, no indivíduo e no coletivo, com algo além do que um aparato técnico pode nos estender, mesmo o telescópio dos telescópios. Nossa sensibilidade há de captar para mais adiante do que a nossa física periscópica. A Physis, que já era ciência entre os gregos, é tão somente o literal saber das coisas, até onde chegamos. Não resisto à citação do final da Crítica da Razão Prática (Kant) e, por favor, não me tomem como pedante, sou apenas um caminhante, lado a lado, na primeira pessoa da subjetividade plural, nós. "Muito me impressiona olhar as estrelas no infinito e vislumbrar para dentro de nós mesmos o imperativo categórico" (de possibilidades morais). Dividam comigo um afago de conforto, em momento de encruzilhada tão severo, aqui e alhures.

domingo, 16 de abril de 2017

Inoportuno o poema


Inoportuno o poema nessa hora adversa aos versos,
em que se fecham portas, janelas e corações a quaisquer conversas de amor e paz,
quando explodem as bombas das odiosas paixões desnaturadas da solidariedade e de essências benfazejas em razão de razões do desprezo e da avareza.
Inoportunos versos, essencialmente necessários,
de amor em contraponto à dor.
Inoportuno poema, essencial como sol e sal.
Inorportuna poesia,
bálsamo em vale de lágrimas,
como pra vida o ar e as águas